Entre doses de vodka & Tábua Ouija.

Elas não tinham a mínima noção do tempo que permaneceram ali, tampouco de que horas deveriam ser agora; só o que sabiam é que não poderiam permanecer naquele local por mais nenhum segundo. Elizabeth levantou-se apressadamente, olhando ao redor exclamou:

- Eu.. eu não sei o porque disso, não faço a mínima idéia do que está acontecendo conosco, Kat. Sei que precisamos ir... ir embora, e logo.

-Eu sei, eu sei, tá legal? Mas ir para onde?

- Pra qualquer lugar, talvez para a casa do Ficzko, ou da Helena e da Dorothy. A gente precisa fugir!

- Fugir do que? Nós nem ao menos sabemos o que se passa conosco, na certa as garotas irão chamar-nos de doidas, você sabe disso.


- Então vamos para a casa do Ficzko, os pais dele estão viajando, e ele nos entenderá (ou pelo menos tentará entender). Katarina, eu te imploro, vamos embora!


- Beth, você sabe que eu estou tão assustada quanto você, e que também não quero permanecer aqui. Talvez estejas mesmo certa; vamos subir pegar casacos, pois parece estar ventando lá fora, aí então nós iremos, ok?

De fato, ventava bastante. Poucos minutos depois, elas estavam à caminho da rua Saint Jerry, há seis quarteirões dali. Johnny Stockler estava longe de ser alguém responsável: no auge de seus 23 anos de idade, ainda morava com os pais. Típico garoto sem-futuro da década de 80, não trabalhava, não estudava, e passava seus dias compondo canções para a sua futura banda, que jamais saíra de sua imaginação. Ao longo de sua vida, fora internado em duas clínicas de recuperação, que de nada lhe serviram, pois ele sempre voltava ao círculo vicioso das drogas e do alcool. Mas, não se pode negar que agora ele estava melhor do que antes. Fumava um baseado só às vezes, e bebia menos, muito menos que antigamente.
Ainda era cedo, portanto, haviam poucos carros circulando. A rua pela qual seguiam era bastante arborizada. Elizabeth gostava do barulho do vento balançando as folhas das árvores, ela o achava acalmador, e por parte do trajeto, seguiu concentrando-se apenas nele, para afastar as más lembranças. Chegaram no cruzamento da Northway com a Saint Jerry: seguindo pela Northway, se andassem mais três quarteirões chegariam à casa das irmãs Künzendorff, e seguindo pela Saint Jerry, logo chegariam à casa de Ficzko,e foi essa a direção que tomaram. As janelas estavam todas fechadas, se não o conhecessem, diriam que ele não estaria; mas sabiam que deveria estar dormindo, no mais profundo dos sonos. Tocaram a campainha diversas vezes, sem obter nenhuma resposta.

- Pelo visto, a noite de ontem foi longa. - comentou Beth, com malícia.

- Cale a boca, vamos fazer a volta, assim poderemos chegar até à janela do quarto dele, venha.

Fizeram a volta na enorme casa de madeira, toda branca e com grandes janelas vermelhas. Passaram pelo lado de um belo jardim, o orgulho de Dona Jeane Stockler, e seguiram pela calçada de mármore acinzentado. Na parte de trás da casa, havia uma enorme floreira, que, se escalada, dava direto na janela do quarto de Johnny. Kat subiu primeiro, atrás dela veio Beth, hesitante.

- E se isso desabar?

- Não desaba, fica tranquila Elizabeth.

- Pelo visto você já tem experiência em subir essa floreira, hein dona Katarina?

- Sinceramente eu tenho sim...

Riram um pouco e retornaram à sua "grande escalada". Logo estavam ao pé da janela, batendo com força no vidro, até que Johnny veio ver do que se tratava. Ficou um pouco perplexo ao ver as duas ali, e ele todo descabelado, vestindo um antigo calção xadrez. Abriu a janela, ainda sonolento e exclamou:

- Mas o que diabos vocês fazem aqui? E de madrugada ainda!

- Desculpa Ficzko, mas eu e a Kat precisávamos conversar com alguém, aconteceram coisas ontem à noite, e você... só você pode nos entender e acreditar na gente.

- Tudo bem, desculpa se eu fui meio grosso, mas que tipo de coisas? Expliquem isso direito.

Katarina, impaciente disse:

- Primeiramente, será que você poderia convidarnos para entrar?

- Ah! Sim, claro, Entrem. Desculpem-me meninas, ainda estou com sono.

- Tudo bem, nós entendemos. - exclamou Elizabeth, já dentro do quarto.

Sentaram-se na cama enquanto Ficzko fechava a janela.

- Eu vou tomar um banho e me vestir, aí a gente conversa. Vocês querem alguma coisa? Comida, bebida, cigarros?

- Uma vodka e um cigarro, necessito disto; e creo que Kat também.

- Sabe, as vezes sinto que tu consegues ler meus pensamentos, Beth.

Em breve, ali estava uma garrafa de vodka e um maço de cigarros, ambos da melhor qualidade. Alguns minutos depois, ele retornara do banho, e sentou-se na poltrona, em frente às meninas.

- Lindo e cheiroso, aqui estou eu.

Os três riram por alguns minutos, mas logo o silêncio recaiu sobre aquele ambiente. Johnny tomou a palavra:

- Bom, pelo visto o que vocês têm a me dizer é, decerto algo muito sério, pois não viriam até aqui a essas horas, por uma bobagem qualquer. Estou certo?

- Sim, estás. Olha, eu já vou adiantando, é algo confuso, sabe? E nós esperamos que pelo menos você acredite, nós confiamos em ti.

- Tudo bem Kat, agora contem com calma.

Elas tentaram explicar, da melhor maneira possível, como tudo havia acontecido. Falaram do encontro de Elizabeth com aquele desconhecido, dos ocorridos na noite anterior, sem poupar nenhum detalhe. Ao fim, ficaram em silêncio em alguns momentos. Era como se ele estivesse refletindo, analisando cada detalhe do que elas contavam. Logo após, decidiu opinar.

- Uau! Olha, é uma história bastante... como eu posso dizer... bastante esquisita, sabe. Será que vocês não estavam delirando? Talvez estivessem muito chapadas, ou sei lá.

Beth levantou-se enfurecida, jogou o cigarro no chão, pôs as mãos sobre a cabeça e gritou:

- Será que você não percebe? Não foi um delírio Ficzko, e isso vai continuar, eu sinto que vai. Você precisa nos ajudar, você precisa!

- Calma! Olha meu lado também poxa, vocês chegam aqui em casa, as 6 da manhã, e me vem com essa história doida, querem que eu pense o que? Me dêem um tempo para raciocinar, pelo amor de deus.

- Chega gente! Brigar não vai nos levar a nada. Nós precisamos manter a calma, tá legal? - interviu Katarina.

- Sim, tens razão, -concordou Johnny - querem dormir aqui esta noite? Pelo que eu entendi, estão com medo de voltar para suas casas.

- Se não for muito encômodo, por mim tudo bem. E você Kat, concorda?

- Concordo sim, mas nós não trouxemos sequer pijamas!

- Não seja por isso, eu empresto uma camiseta pra cada uma. Podemos chamar Helena e Dorothy, e improvisar uma festinha, que tal?

- Até que tu pensas, Ficzko! - disse Elizabeth, caindo na risada.

- Como és engraçadinha hein moça? Mas tudo bem, vou fingir que você não falou isso, porque eu sou um cara legal.

- E o que você tem pra festa, Ficzko? - perguntou Katarina.

Ele andou até uma estante no canto do quarto, abriu uma das portas e disse:

- Vodka, absinto, whisky, cigarros e cocaína. Tá bom pra você?

- Tá ótimo! Agora é só chamar as meninas e pronto. E você será o bendito fruto.

- Como sempre né Kat, como sempre. Mas eu não ligo, só quero que fiquem bem.

Assim, a manhã passou rapidamente. Quando se deram por conta, já era quase meio dia. Ficzko encomendou algumas pizzas, e comeram-nas rapidamente. Colocaram colchões na sala para assistir filmes e comer algumas pipocas. Não passado muito tempo, as garotas haviam adormecido, e Johnny decidira ir até a casa das irmãs Künzendorff, convidá-las para a pequena festa e contar-lhes o que se passava com Elizabeth e Katarina.
Há algumas quadras dali, Helena e Dorothea discutiam sobre música. Uma dizia que melodias mais sombrias tornavam a música cansativa, outra dizia o contrário. Freqüentemente discutiam por motivos bobos como este, mas no geral, davam-se demasiado bem, se levássemos em consideração o fato de serem irmãs. Doroty não conseguia ficar parada por muito tempo, precisava estar sempre em movimento, por isso, costumava ser dela a tarefa de arrumar a casa. Já sua irmã, adoraria poder ficar um dia inteiro sem fazer nada, exceto fotografar (sua maior paixão, que já rendera-lhe alguns prêmios). Dando fim à discussão, Helena foi preparar-lhes um café, e nesse exato momento a campainha tocara. Ficou um tanto surpresa ao abrir a porta, e ver em sua frente Ficzko, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça, deveras inquieto.

- Oi, Lena. Posso entrar?

- Pode sim, claro, quer.. quer um café?

Os olhos dela brilhavam com uma estupidez infantil diante dele, o que era difícil de esconder.

- Não, eu vim... Vim convidar-lhes para uma festa, mas antes preciso contar-lhes algumas coisas um tanto esquisitas.

Dorothea entrou na sala nesse exato momento, tomando sua forte dose de café.
- Ficzko querido, estava com saudades suas! Vamos lá, conte-nos sobre o que te atormenta.

- Ah Doroty, eu também estava com saudades! Saudades de vocês duas. Mas não foi por isso... Quero dizer, não foi só por isso que vim.

Então, ele contou tudo que ocorrera com Beth e Kat nas duas noites anteriores. Terminada a história, Dorothea caiu em uma profunda crise de risos, e emendou:

- Loucura, isso é loucura. Sangue, fantasmas sedutores, vozes.. Será que vocês três perderam o juízo?

- Cala a boca Doroty. - era como se Helena estivesse lembrando de algo, e prontamente ela acrescentou. - Ficzko, por mais que pareça loucura, pode ser real mesmo. Você lembra do acampamento no Lago Kansas, há dois anos atrás?

- Claro Lena! Como eu tinha esquecido disto? Agora talvez faça sentido! Veja, está anoitecendo, e se for mesmo verdade, é melhor não nos separarmos durante a noite. Arrumem-se logo, e vamos lá pra casa, pois, pelo visto, teremos muito tempo para conversar.

Foram rapidamente aprontar suas coisas, e Doroty ainda duvidava da palavra do amigo.

- Lena, o que houve nesse tal acampamento no Lago Kansas? Eu lembro que depois disso, você ficou transtornada por dias!

- Ainda não é hora, Doroty. Mais tarde conversaremos sobre isso.

(E, de fato, mais tarde teriam muito à conversar.)

Não demoraram muito para chegar até a casa de Johnny. Trancaram todas as portas e janelas, e nesse momento, Elizabeth acordara-se.

- Olá meninas. Nossa! Eu dormi como uma pedra. Ei, acorde Kat! O pessoal já chegou.

Kat acordou-se rapidamente, comprimentou as meninas, e após isso pediu a Ficzko toalhas e alguma camiseta emprestada, para que pudesse tomar banho. Ainda tinha medo de ficar sozinha no banheiro, portanto, ela e Beth seguiram juntas para o lavabo, enquanto os outros bebiam e conversavam na sala. Alguns minutos depois, estavam prontas e sentaram no círculo sobre os colchões. Beth pediu um cigarro, e perguntou também as horas.

- São dez e meia. Nossa, vocês ficaram muito sensuais com essas camisetas hein? - provocou Johnny.

- Sim, senhor Ficzko. Vamos até atuar num filme pornô: dormindo com o fantasma do bar. - revidou Beth, e todos riram.

Após estarem embebedados, Dorothea fez uma sugestão:

- Que tal se jogássemos na tábua ouija? Poderíamos esclarecer
algumas dúvidas.

Todos concordaram com a idéia, e Johnny subiu pegar o jogo em seu quarto. Estavam todos a postos, e decidiram que Doroty anotaria as sentenças. A primeira pergunta que fizeram foi a seguinte: Quem está aí?

O ponteiro foi movendo-se lentamente, e Dorothea anotando letra por letra.

- Qual foi a resposta? - Helena estava inquieta.

- Eva Monthousen.

Entreolharam-se alguns segundos e continuaram com a brincadeira:

P: Isso é uma maldição?
R: Sim.
P: Ela pode ser quebrada?
R: Não.
P: O que você quer?
R: Vossa alma.

Nesse momento, o ponteiro, que era de vidro, espatifou-se diante deles, e as luzes começaram a acender e apagar sozinhas. Espantados, todos se abraçaram e começaram a gritar. Logo vieram as vozes:

- Maldições não podem ser quebradas, vocês irão pagar pelos erros ancestrais. Não tenham medo, é bom sangrar...

Um vento forte tomou conta da casa, e todas as portas e janelas (que estavam "seguramente" trancadas) abriram-se de repentem, e um cheiro pútrido tomou conta do lugar. Elizabeth levantou-se descomposta, era impossível controlar as lágrimas; então gritou:

- Eu quero que vocês desapareçam, porra! Ninguém aqui fez nada, deixem-nos em paz, eu lhes imploro!

Nisso, uma rajada de vento jogou-a longe. Johnny, apavorado, tentou correr para socorrê-la, mas logo foi arremessado para o outro lado da sala. Lena, Kath e Doroty permaneceram imóveis, no centro da sala, chorando alto, enquanto escorria sangue pelas paredes, e o tumulto de vozes recomeçava:


- Vejam, agora nós estamos fortes, e vocês não são nada! Dessa vez, serão vocês que irão sangrar, até a morte, e nada impedirá!
SANGRE, HELENA! SANGRE, DOROTHEA! SANGRE, KATARINA!
Seus vermes malditos!


Surgia então uma multidão de risos desformes e assustadores, e o sangue começou a escorrer pelos corpos das três, que, apavoradas, só conseguiam gritar. De súbito, levantaram-se e tentaram correr em direção da porta, porém, a rajada de vento (com força descomunal) arremessou-as longe. Antes de cair desacordada, Katarina ainda pode ouvir uma última voz:

- Isto é apenas o começo...


E durante o resto da noite, todos reviveram, em sonho, a mesma lembrança: O acampamento no lago Kansas...



5 comentários:

Anônimo disse...

Mais personagens! Um mistério! Está ficando muito interessante. Estou adorando é tenso, intrigante e viciante!!
Beijos!

úlima disse...

Caraca!Muito legal o teu blog...essse texto ficou tudo!
=}
Amei!
A guria aí de cima tem razão...é tenso, intrigante e viciante
^^
.beijos

Anônimo disse...

Atualizeeeei, finalmente.
Agora falta você, hein! Tô curiosa!
Beijos!

Unknown disse...

FiZ um filme na minah cabeça! História mt emocionante!lli

Unknown disse...

Fiz um filme na minah cabeça! História mt emocionante!